Este artigo foi publicado em agosto de 2013, porém, é cada vez mais atual.

Segundo a teoria da utilidade, base da teoria econômica dominante, o aumento de renda deve elevar também o nível de felicidade. Baseado neste pressuposto, lutamos diuturnamente para elevarmos o produto interno bruto de um país ou a nossa própria renda. Afinal de contas, todos nós queremos ser felizes.

Mas pesquisadores de diferentes instituições e de várias partes do mundo vêm elaborando estudos que demonstram que o aumento de renda não está diretamente relacionado com aumento de felicidade. Então, será que estamos todos sendo malucos em fazer enorme esforço para ganhar mais dinheiro, se ele não nos traz felicidade?

A primeira questão a se esclarecer é: o que é felicidade? E, logo a seguir: como medi-la? Infelizmente ainda não dispomos de um felicitômetro que indique o quanto cada um de nós é ou não feliz. Até hoje a única forma de medir a felicidade de alguém é perguntando à própria pessoa o quanto ela é feliz ou, mais precisamente, o quão satisfeita com a sua vida ela está.

Assim, a pesquisa típica para medir a felicidade é feita mostrando para a pessoa um questionário e pedindo que ela assinale o grau de satisfação com sua vida “naquele momento”, conforme a imagem abaixo.

Basta pensarmos um pouco sobre nossa própria satisfação com a vida para percebermos que ela varia muito. Pequenos acontecimentos do dia a dia podem interferir nessa avaliação. Uma vitória do nosso time do coração, um desentendimento com um filho ou companheiro, um lindo dia de sol, o trânsito pesado ao final de um dia de trabalho ou até mesmo variações hormonais podem fazer com que tenhamos picos de satisfação ou de insatisfação.

Para evitar estas naturais variações, as pesquisas costumam trabalhar com grandes amostras. Desta forma, por exemplo, torcedores felizes com o time vencedor são contrabalanceados pelos torcedores do time adversário, que estão tristes com a derrota.

Entendida a metodologia normal das pesquisas, podemos então nos concentrar nos efeitos do dinheiro sobre a satisfação com a vida. Quando perguntamos a um grupo de pessoas que ganham mil dólares por mês e a outro que ganha 5 mil dólares, muito provavelmente teremos mais pessoas satisfeitas com a vida no segundo grupo do que no primeiro. Claro que poderemos ter pessoas satisfeitas com a vida ganhando mil e pessoas insatisfeitas ganhando 5 mil, mas a exceção não invalidada a norma.

A maioria das pesquisas indica que em aumentos de renda de até 15 mil dólares ano, a correlação com o nível de satisfação com a vida é muito forte. A partir deste ponto até um nível que varia entre 50 e 70 mil dólares ano, dependendo da pesquisa, a correlação entre renda e felicidade ainda existe, mas já é bastante fraca. Como a maioria das pessoas ganha menos que este valor, faz sentido lutar para aumentar a renda. Ou seja, para elas provavelmente mais dinheiro é mais felicidade.

Mas e se você já ganha R$ 8 mil mensais ou mais, ponto em que as pesquisas são unânimes em afirmar que deixa de existir correlação entre renda e satisfação com a vida, será que vale a pena lutar com afinco para ganhar cada vez mais? Se você confiar nas pesquisas, mais dinheiro não vai aumentar sua felicidade.

Ainda assim, é muito pouco provável que alguém se convença a parar de buscar aumento de renda a partir deste ponto. Isso decorre de dois efeitos: o primeiro é que até chegar aos 50 mil anuais nos acostumamos com o efeito positivo do dinheiro sobre nossa vida. O segundo é que, mesmo a partir deste ponto, mais dinheiro realmente melhora nossa satisfação, só que de uma forma que tende a acabar muito rapidamente, como ilustrado abaixo.

E o que é pior: algumas pesquisas têm demonstrado que existem mais pessoas deprimidas no topo da pirâmide social do que na base. Uma explicação vem do fato de que, normalmente, para ganhar mais dinheiro, temos que assumir mais responsabilidades. Assim acabamos tendo menos tempo para cuidar da nossa saúde, dos nossos relacionamentos e do nosso bem-estar.

Outro ponto a observar é que, quando adquirimos um novo bem, um objeto dos sonhos, este bem também acaba ocupando nosso tempo. Quando compramos um apartamento na praia, somos donos deste novo bem. Mas ele passa a ser dono de parte do nosso tempo também.

É difícil pensar que alguém que já atingiu o valor limite de influência do dinheiro na satisfação com a vida resolva parar de se esforçar para ter progresso profissional e material. Porém, se este é seu caso, a recomendação é parar um pouco para refletir sobre suas prioridades. Será que não é hora de olhar para outras dimensões da vida, além do lado financeiro? Será que é melhor lutar para ter um carro ainda melhor ou buscar ter um pouco mais de tempo com aqueles que você ama?

Author

É doutor em Finanças Comportamentais, com pós-doutorado em Psicologia Cognitiva pela Université Libre de Bruxelles (ULB) e professor de Finanças Pessoais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

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