O dinheiro atua em nossas vidas como um poderoso facilitador. Quando temos reservas financeiras reduzimos as preocupações com o futuro e, assim, temos mais tranquilidade e paz de espírito para aproveitar o presente. Dedicamos uma parte muito importante da vida para o trabalho, trocando nosso tempo por dinheiro.

No entanto, por mais gratificante que seja o trabalho, ele não deve tomar todo o tempo, porque tempo é vida. O dinheiro pode facilitar a vida, mas o tempo é o verdadeiro combustível da nossa existência.

O tempo é limitado para todo mundo. Todos nós temos um dia de 24 horas e, por mais que tentemos, não conseguimos esticá-lo. Devemos, também, lidar com o fato de que não fazemos a menor ideia de quantos dias ainda temos para viver.

A indústria tecnológica coloca em nossas mãos verdadeiras maravilhas, impensáveis para alguém que nasceu antes dos anos 70, que nos permitem aproveitar ao máximo nosso tempo. Cada vez mais temos a possibilidade de estar conectados e com a impressão de que conseguimos fracionar nossas horas para estar simultaneamente em vários lugares.

Todo esse aparato tecnológico permite, por exemplo, poder falar com meus filhos a qualquer momento, usar um GPS para me guiar por caminhos desconhecidos, escrever este artigo durante um voo e, ainda, saber que os leitores poderão acessar essa revista de onde estiverem com nossa edição digital.

Porém, como lembra Zeca Baleiro, “na vida nada vem de graça, nem o pão nem a cachaça”. Toda essa tecnologia tem um preço, que pode ser muito alto se deixarmos que ela controle nossas vidas.

Tempo fracionado

Como o tempo é limitado, tentamos utilizar a tecnologia para vencer esta barreira, na tentativa de fracionar nossos minutos para estar em muitos lugares ao mesmo tempo. Ocorre que nosso cérebro ainda não está preparado para tal desafio. Esta tentativa de esticar o tempo gera um intenso desgaste cognitivo.

Talvez tamanho desgaste compense em algumas atividades profissionais, mas certamente é um recurso extremamente duvidoso nas atividades pessoais.

Basta observar um grupo de pessoas para ter a dimensão da tecnologia na nossa vida. É comum em festas ver pessoas prezas ao celular alimentando redes sociais, recebendo ou enviando dezenas de mensagens a pessoas distantes.

Devemos lembrar que nossos recursos cognitivos são limitados e que, ao darmos atenção à tecnologia, estamos deixando de estar verdadeiramente presentes no local onde escolhemos passar aquele momento. Assim, ao centrar o foco em quem está longe nos distanciamos de quem está bem ao nosso lado.

Uma solução

Como não podemos estar em dois lugares ao mesmo tempo, e como muitas vezes existe mais de uma família ou grupo de amigos com quem queremos estar, o mais produtivo pode ser escolher um horário e fazer uma visita a estas pessoas para estar por inteiro no momento. Caso a visita não seja possível, uma ligação telefônica fora do horário da festa também permite manifestar todo o apresso por aquela pessoa que está longe.

Os recursos tecnológicos são muito bons para acelerar a produtividade. Mas permitir que eles invadam a vida cotidiana pode ser muito prejudicial. Felizmente, todos os aparelhos tecnológicos vêm com um botão para ligar ou desligar. Um celular desligado vai reter todas as mensagens recebidas, que poderão ser lidas ou ouvidas quando você estiver sozinho.

Não faz sentido sair para jantar com alguém e ficar o tempo todo ao telefone, falando ou passando mensagens de WattsApp. Também não faz sentido ir ao cinema ou ao teatro e estar com a cabeça longe dali, conferindo mensagens ou a rede social pelo celular. Sendo assim, por que aceitamos que em uma festa ou em um jantar com amigos ficamos nos comunicamos com aqueles que estão longe?

Se escolhemos estar em um local com os filhos, com amigos, com a pessoa amada ou com familiares, por que não aproveitar por inteiro as pessoas que estão ao nosso lado? É preciso aproveitar as maravilhas das comunicações instantâneas para poupar tempo e para que seja possível estar presente de corpo e alma com aqueles de quem escolhemos dividir cada momento.

E o dinheiro onde entra nesta equação? Talvez a maior qualidade que uma reserva financeira possa nos trazer é permitir que tenhamos tranquilidade para realmente aproveitar o momento presente, sem que a angústia quanto ao futuro ou as preocupações com as dívidas passadas tirem a alegria de viver com paz de espírito o momento presente.

Author

É doutor em Finanças Comportamentais, com pós-doutorado em Psicologia Cognitiva pela Université Libre de Bruxelles (ULB) e professor de Finanças Pessoais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

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