Qual foi o primeiro sentimento que veio à sua mente quando você leu no título desse artigo a palavra “AMBIÇÃO”?

Ao chamar alguém de ambicioso, você encara isso como um elogio ou uma crítica? Para você, o termo “ambicioso” carrega uma conotação positiva ou negativa? Você se considera ambicioso ou ambiciosa?

A primeira pergunta que fiz, o que vem em sua mente quando lê a palavra “ambição”, exemplifica o que se chama em Linguística de Associação verbal. A associação verbal fundamenta-se na ideia de que uma palavra induz automaticamente outra palavra. A primeira resposta dada é indicativa do aspecto mais dominante, do significado da palavra-estímulo, na memória semântica daquela pessoa.

Este processo ajuda a compreender como as palavras e conceitos estão interligados na memória semântica dos indivíduos. Assim, a palavra ambição, na memória semântica, pode ser associada a aspectos tanto positivos quanto negativos.

A ambição pode ser um poderoso catalisador para o progresso. Ela motiva as pessoas a superarem limites, a inovarem e a atingirem níveis de sucesso que podem beneficiar não só a si mesmas, mas também às comunidades e sociedades em que vivem.

A ambição é uma força motriz que impulsiona indivíduos a alcançar metas, aspirações e realizações, tanto no âmbito pessoal quanto profissional. Este traço complexo e multifacetado da personalidade humana está frequentemente associado ao desejo de sucesso, poder, riqueza ou reconhecimento. No entanto, é crucial destacar que ambição também pode ter um lado negativo.

A busca incessante por conquistas pode resultar em estresse e esgotamento, especialmente se a pessoa nunca se sente satisfeita com suas realizações e sempre almeja mais. Em casos extremos, a ambição pode levar indivíduos a comprometerem seus valores éticos e morais, justificando meios duvidosos para alcançar seus fins.

Assim, embora a ambição possa impulsionar o progresso, é fundamental equilibrá-la com uma abordagem consciente e ética para garantir resultados positivos a longo prazo.

A maneira como a ambição é percebida em uma sociedade, seja como uma virtude ou um vício, é importante para o sucesso ou insucesso econômico de uma nação. O mesmo pode ser dito sobre a forma como os jovens encaram a ambição. Jovens ambiciosos são cruciais para o avanço da sociedade, pois são eles que impulsionam a inovação e o questionamento do status quo. Eles são o principal motor de mudanças e progresso econômico e social. Portanto, a ambição juvenil é fundamental para garantir o progresso e a resiliência da sociedade no futuro.

Por outro lado, a ambição desmedida pode ser bastante tóxica e destrutiva, afetando as relações humanas, incentivando desvios éticos e até relegando a um plano secundário a busca pela saúde física e emocional daqueles que não estabelecem limites para sua busca por riqueza e sucesso.

A falta de ambição pode levar a uma série de problemas tanto no desenvolvimento pessoal quanto profissional. Sem objetivos claros ou aspirações, os indivíduos podem cair em um estado de estagnação, onde a falta de progresso ou crescimento se torna uma norma. Isso leva a um estilo de vida passivo, limitando a busca por superação e crescimento, o que tem sérios riscos tanto pessoais quanto sociais.

Ao contrário das gerações anteriores, os jovens de hoje possuem expectativas significativamente maiores. Em nenhuma geração anterior os jovens tiveram acesso a tantas oportunidades e possibilidades. Com o acesso praticamente ilimitado a informações, eles têm agora uma maior amplitude de oportunidades para o aprendizado e a exposição a diferentes culturas e ideias. A globalização, a mobilidade física e virtual e a interconexão dos mercados abrem caminho para oportunidades de carreira e educação anteriormente inimagináveis.

As redes sociais expõem os usuários a uma constante exibição de sucessos e realizações idealizados, criando a ilusão de que todos estão constantemente alcançando grandes feitos e tendo sucesso. Isso pode facilmente estabelecer expectativas irrealistas, glorificando a ambição e a busca por objetivos cada vez mais elevados.

Neste sentido, poderíamos esperar uma geração de ambiciosos. E de fato, atualmente temos jovens extremamente ambiciosos e realizadores, jovens estes que tem revolucionado o mundo e a maneira de como vivemos nele. No entanto, há outro lado da moeda: aqueles que simplesmente desistem da corrida pelo sucesso e passam a glorificar este abandono.

Quando as expectativas e as possibilidades eram mais limitadas, o sucesso poderia ser percebido de forma mais tangível ou acessível. Com menos opções e um caminho mais definido a seguir, alcançar o sucesso, conforme as expectativas sociais ou pessoais da época, poderia parecer mais direto.

Na sociedade contemporânea, com um vasto leque de possibilidades e expectativas elevadas, a percepção de sucesso não é mais definida por um conjunto limitado de critérios, mas sim por uma variedade de realizações pessoais e profissionais. Isso pode levar a uma sensação de incerteza ou à impressão de que o sucesso é mais difícil, ou até impossível de alcançar. Assim, surgem movimentos tremendamente populares entre os jovens, como o “Quiet Quitting” e o “Lazy Job”.

O “Quiet Quitting” descreve empregados que permanecem em seus cargos, mas limitam seu engajamento e esforço ao mínimo. Já o “Lazy Job” refere-se à busca por trabalhos que exigem pouco esforço ou desenvolvimento pessoal dos empregados. Ambos os conceitos refletem diferentes perspectivas sobre o desengajamento no trabalho e na busca por sucesso.

Na China, onde, em pouco mais de uma geração, jovens ambiciosos e extremamente trabalhadores conseguiram enriquecer o país, agora veem seus filhos aderindo a movimentos como o (tang ping) ou ” ficar deitado”, que é uma forma de resistência envolvendo procrastinar tarefas no trabalho ou sair completamente dele, ou, ainda pior, o (bai lan) “deixar apodrecer” em tradução literal, em que jovens desistem completamente de tudo deixam de lado qualquer possibilidade de esperança. Deixar apodrecer significa uma retirada voluntária de lutar por sucesso porque se percebe que ele é simplesmente é muito difícil, ou impossível, de ser alcançado.

A reflexão sobre as facetas da ambição revela sua dualidade impactante na sociedade, especialmente entre os jovens de hoje. Enquanto a ambição, quando direcionada e equilibrada eticamente, impulsiona conquistas notáveis e promove o crescimento pessoal, é imperativo reconhecer que a narrativa predominante de sucesso pode ter efeitos adversos.

A glorificação excessiva da ambição nas redes sociais pode levar alguns jovens a se sentirem desencorajados, incapazes de enfrentar o desafio aparentemente avassalador de buscar o sucesso.

É crucial, portanto, promover uma abordagem equilibrada em relação à ambição, destacando não apenas os triunfos, mas também os desafios e as lições aprendidas ao longo do caminho. Ao fazer isso, podemos ajudar a moldar uma geração de jovens ambiciosos, conscientes do impacto de suas aspirações não apenas em suas vidas, mas também na sociedade em que vivem.

Incentivar a ambição e a busca por sucesso é importante, porém, os critérios de sucesso precisam ser bem dimensionados, para que uma maioria não se sinta impotente diante do ideal de sucesso inalcançável.

Author

É doutor em Finanças Comportamentais, com pós-doutorado em Psicologia Cognitiva pela Université Libre de Bruxelles (ULB) e professor de Finanças Pessoais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

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