As projeções do IBGE já há bastante tempo indicam as profundas transformações pelas quais a população brasileira irá passar nos próximos anos. Porém, o trabalho: “Projeções Populacionais por Idade e Sexo para o Brasil até 2100”, coordenado pelas pesquisadoras Gabriela Bonifácio e Raquel Guimarães do Instituto de Pesquisa Econômica, se dedicou a compreender a dinâmica populacional brasileira, e, com isso, verificou o impacto demográfico nas próximas 8 décadas, até o final do século 21.
Debruçadas sob dados demográficos, as pesquisadoras projetaram 3 cenários para a população brasileira nos próximos 80 anos. No primeiro, chamado de Cenário IBGE/Ipea, a população aumentaria dos atuais 211 milhões de habitantes para 232 milhões de habitantes, em 2050 e, em 2100 declinaria para 177 milhões habitantes. No segundo cenário, chamado de fecundidade constante, também chegaríamos a 232 milhões habitantes, em 2050, quando a população começaria a reduzir para 178 milhões de habitantes, em 2100. E, no terceiro cenário, chamado de choque populacional, a população atingiria o número máximo de 128 milhões habitantes, em 2040 e começaria uma redução significativa para 156 milhões de habitantes, em 2100.
Ou seja, nos dois primeiros cenários, até o final deste século, a redução populacional seria equivalente a retirada de toda a população dos 3 estados do Sul do Brasil. E, no cenário de choque populacional, a redução populacional seria equivalente a retirada de toda a população do atual estado de São Paulo.
E, qual é o motivo de tamanha redução populacional? No início da década de 60, a mulher tinha em média 6 filhos. Já, em 2010, a média era de 1,78 filhos, por mulher. Em meio século, a taxa de fecundidade declinou em 70%. Com base neste fato, as projeções indicam que, em 2060, a taxa de fecundidade chegará a 1,66 filhos, por mulher e, em 2100, a taxa de fecundidade chegará a 1,27 filhos, por mulher.
Outro fator importante é o aumento na média de idade em que as mulheres brasileiras têm filhos. Felizmente, temos reduzido substancialmente o percentual de gravidez na adolescência e aumentado significativamente a escolarização e a participação das mulheres no mercado de trabalho. Isto, porém, tem acarretado o retardamento da idade que as mulheres têm filhos e o aumento do número de mulheres que optam por não ter filhos.
No cenário IBGE/IPEA, até o ano de 2050, o número de brasileiros com 15 anos ou menos vai cair quase 19%, já o número de brasileiros entre 15 anos e 65 anos vai ter uma leve queda inferior a 1% e o número de brasileiros com 65 anos ou mais vai subir 146%. Até lá, teremos esgotado totalmente nosso bônus demográfico e, definitivamente, deixaremos de ser um país de jovens.
No cenário mais otimista, ao final do século, 29,4% da população será de pessoas com 65 anos ou mais. No cenário de menor crescimento populacional, IBGE/IPEA, 40,30% dos brasileiros terão mais de 65 anos, em 2100. A população de crianças e jovens vai cair 70% e a de idosos vai aumentar impressionantes 294%.
Para alterar a redução populacional seria preciso que os casais decidissem ter mais filhos, o que me parece muito pouco provável. Uma alternativa seria o aumento da imigração, no entanto, os países mais desenvolvidos têm mais atrativos para os imigrantes do que o Brasil.
Então, precisamos nos preparar para viver em um Brasil com uma população envelhecida e com poucos filhos por família. Existem inúmeras políticas públicas que já deveriam estar sendo tomadas para preparar a população brasileira a conviver com as rápidas e profundas mudanças pelas quais passaremos nos próximos anos. Porém, com tantos problemas imediatos e não resolvidos, acreditar que os governos a curto prazo se dediquem ao planejamento para a longevidade e redução populacional é ser muito otimista.
Se não podemos contar com o governo precisamos nos preparar para ter qualidade de vida na terceira idade. A primeira coisa que devemos pensar é em cuidar do nosso físico para retardarmos ao máximo uma possível dependência de cuidados externos.
James W. Vaupel, 77 anos, é diretor-fundador do Instituto Max Planck de Pesquisa Demográfica em Rostock, na Alemanha. Também, ele é professor pesquisador na Duke University onde pesquisa o envelhecimento, a biodemografia e a demografia formal. Ele foi fundamental no desenvolvimento e no avanço da ideia da plasticidade da longevidade. Segundo Vaupel, a expectativa de vida não está aumentando como resultado de uma desaceleração no processo de envelhecimento. Em vez disso, o processo de envelhecimento está sendo adiado. A entrada na velhice está sendo atrasada.
Deste modo, não ficamos velhos por mais tempo, mas, sim, ficamos jovens por mais tempo. É uma enorme diferença! Isto posto, para prolongar a juventude precisamos cuidar da saúde muito antes da chegada da velhice. Aumentar nossa vida em 20 ou 30 anos pode ser muito bom, desde que tenhamos saúde e disposição para aproveitar a vida.
Sabemos que as grandes vilãs da longevidade saudável são as doenças crônicas: problemas cardiovasculares, hipertensão, câncer, doenças respiratórias e diabetes. A principal conclusão que se pode tirar a partir da eliminação dessas doenças é de que aumentaria a expectativa de vida livre de incapacidades.
Mas, como eliminar esses problemas de saúde? As doenças crônicas podem ser adiadas ou prevenidas com a adoção de um estilo de vida saudável – evitando sobrepeso, tabagismo, sedentarismo, stress crônico, consumo excessivo de álcool, alimentação desequilibrada e privação do sono. Fácil de entender e difícil de praticar.
Outro fator muito importante para ter uma vida longa e autônoma é nossa saúde financeira. Infelizmente, os brasileiros em geral cuidam pouco das suas finanças e acreditam que serão socorridos na velhice pelo governo ou pela família. Olhando para as projeções populacionais é difícil de acreditar que o governo vá cuidar do conforto financeiro das pessoas na velhice.
Será que a família vai poder suportar com o sustento dos idosos? Durante muitas gerações a aposentadoria era pensada no seio da família. Como poucas pessoas ficavam velhas, vigorava uma lógica simples: cada um procurava enriquecer a família e a herança era a forma de transmitir esta riqueza. Quando alguém ficava velho ou doente era atendido pela mesma família. Este pacto tácito intergeracional caducou pela redução do número de filhos e pelo aumento na proporção de idosos na sociedade.
Então, para conseguir aproveitar os anos que os avanços da medicina nos presentearam precisamos cuidar da nossa saúde física e financeira. Precisamos poupar e investir bem nossos recursos de longo prazo. E, aí vem um outro grave problema dos brasileiros, a enorme concentração dos investimentos em imóveis.
Nos últimos 60 anos a população das cidades brasileiras aumentou mais do que 8 vezes, saindo de 21 milhões para cerca de 181 milhões. Isto ocorreu pelo crescimento populacional e pela migração da população do campo para a cidade. Ora, com tamanho crescimento, as cidades brasileiras expandiram e, consequentemente, o preço dos terrenos urbanos aumentaram de forma significativa.
Mas, como vimos, nosso crescimento será muito pequeno nos próximos anos, antes de começar a regredir. Também, não teremos mais a migração das pessoas do campo para as cidades. Até é possível que o teletrabalho leve pessoas das cidades em direção ao campo. Portanto, precisamos tomar um grande cuidado com os investimentos em imóveis. É pouco provável que os terrenos urbanos continuem aumentando de preços como no passado.
Uma carteira diversificada em bons planos de previdência complementar, fundos de investimentos, títulos públicos, títulos privados e ações é a melhor forma de cuidar bem do nosso futuro.
Os avanços da medicina nos presentearam com três décadas de expectativa de vida. Precisamos nos esforçar para fazer com que este presente seja bem aproveitado.