Algumas pessoas desejam intensamente se tornar pai ou mãe. Sendo sincero, esse não era meu caso. Já com minha esposa era completamente diferente, ela sempre teve um desejo muito forte de ser mãe. A Celina precisou me convencer.
Mesmo assim, quando descobri que seria pai pela primeira vez, quase sofri um ataque cardíaco, tal o susto. Porém, até hoje agradeço a ela pelo “incentivo”, porque a coisa de que mais gosto na vida é ser o pai da Júlia e do Gustavo. Amo compartilhar a vida com eles.
Desde que nossos filhos nasceram, tanto Celina quanto eu encaramos a tarefa de educar como a mais importante das nossas vidas. O problema é que não existe nenhum treinamento prévio para essa empreitada. Não começamos como estagiários, trainees, gerentes ou diretores… Já mergulhamos na tarefa de ser pai ou mãe como presidentes. Temos que tomar diariamente decisões para situações inusitadas, sem precedentes. E o sentimento de despreparo é temperado por um amor que jamais imaginamos sentir por alguém. Portanto, o medo de errar é por vezes apavorante e paralisante.
A Júlia foi nossa primeira filha, e eu tinha a noção errada de que poderia moldar aquele pequeno ser indefeso. Ledo engano. Ela já nasceu cheia de personalidade, uma força interior que me desconcertava. Cometi muitos erros com ela.
Pensei que tudo que tinha aprendido facilitaria muito a educação do nosso segundo filho, o Gustavo. Novo engano… O Gustavo era completamente diferente da Júlia. O que funcionava para ela não funcionava para ele. Era como se eu tivesse dirigido uma empresa de comodities e, em seguida, ido para uma de tecnologia, ou vice-versa. Fatalmente, cometi mais erros.
Mesmo tendo errado muito, hoje quando vejo a família que construímos, o sucesso dos nossos filhos, fico tentado a compartilhar algumas coisas que fizemos que eventualmente podem ajudar aqueles que têm a dura tarefa de educar seus filhos.
Assim, aqui listo sete conselhos que considero importantes:
- Esqueça a ideia de que você vai moldar seus filhos à sua semelhança, um filho é como um diamante bruto, já traz pronta sua personalidade. E a primeira coisa que um bom lapidador faz é entender a pedra para tentar realçar suas qualidades naturais e, eventualmente, diminuir algum defeito. Se ele não respeitar as características do mineral, não vai conseguir um bom resultado.
- Filhos são como esponjas, estão constantemente aprendendo. Conversas podem ajudar, mas eles aprendem verdadeiramente é pelo exemplo.
- Todo ser humano em formação precisa de limites. Quando os pais vivem em situação financeira apertada, é mais fácil dizer “não tenho condições para dar o que você quer”. Já para pais que têm melhor condições financeiras é mais difícil, eles vão ter que dizer “eu posso te dar, mas acho que se eu te der o que você quer agora não vai ser bom para você”. Pais que dão tudo o que os filhos querem, na hora, tiram o prazer da luta, da conquista. Mesmo sendo muito mais fácil dizer sim do que não, não se educa apenas com sim. Se você quer formar filhos vencedores, precisa ensinar a lutar, pois infelizmente a vida não será tão carinhosa com nossos filhos como gostaríamos que fosse.
- Ao chegar em casa conte coisas boas sobre seu trabalho, conte histórias interessantes do que aconteceu durante o seu dia. Há pais que sempre chegam em casa reclamando do trabalho. Assim, é natural que os filhos pensem que trabalhar é muito chato e, nesse caso, no futuro não queiram trabalhar.
- As histórias são poderosas, cultive as histórias de sua família. Fale de como vocês e seus antepassados venceram as adversidades. Capriche no enredo e não tenha medo de repetir diversas vezes a mesma história, pois são elas que ligam as gerações. É fundamental fazer com que os filhos se sintam envolvidos em algo maior, pois uma família é muito mais do que pessoas que dividem o mesmo teto. A família é formada pelos laços de amor e pelos sentimentos de aconchego, bem-querer, cumplicidade, compartilhamento, afeto.
- Cultive a verdade em família. Muitas vezes, os pais não contam a verdade com medo de prejudicar seus filhos. Porém, por mais dura que ela seja, sempre é melhor do que a mentira. Filhos não precisam de pai e de mãe super-heróis, precisam de apoio e dedicação de seres humanos com suas falhas e suas limitações. Quando uma mãe ou um pai demonstra seus erros, suas vulnerabilidades, abre espaço para que seus filhos possam buscar apoio nos momentos que cometerem um erro ou que estiverem vulneráveis.
- Saiba acolher com carinho genros e noras como se fossem novos filhos e filhas. Se você afastar as pessoas escolhidas pelos seus filhos, consequentemente, vai afastar seus filhos do seio da sua família.
Apesar de trazer aqui alguns conselhos, não sou um pai perfeito. Infelizmente, estou muito longe disso. Mas acredito que essas reflexões podem ajudar outros pais ou mães.
Muitas dessas lições, Celina e eu aprendemos com nossos filhos. Educação é uma via de mão dupla. Ensinamos algumas coisas, porém certamente aprendemos muito mais. Assim, acreditamos que em uma família deve haver trocas, debate horizontal de ideias, acolhimento para o novo, para o diferente. As vitórias devem ser comemoradas e as derrotas, acolhidas.
Ter uma família custa muito caro, não em recursos financeiros, mas caro em tempo. E de uma coisa, tenho total convicção: minha melhor escolha de vida foi reservar tempo para minha parceira e para meus filhos, pois nenhum sucesso financeiro compensaria um fracasso familiar.